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De vírus, máscaras e cestas básicas: imigrantes da periferia de São Paulo em tempos de pandemia
A cidade de São Paulo tem se consolidado, na última década, como um local relevante de recepção e acolhida de migrantes de diversos países do Sul Global [1] tornando-se uma referência ao atendimento à esta população no país, por concentrar diversos atores da sociedade civil e governamentais, migrantes e não migrantes. Em tempos de pandemia do novo coronavírus, proponho, neste momento, refletir sobre como as redes da sociedade civil e das organizações institucionais que atuam com imigrantes têm se mobilizado no atendimento à esta população situada em áreas periféricas da cidade.
Esse esforço será amparado pela teoria ator-rede (TAR), na forma cunhada por Bruno Latour [2][3], onde se dá especial atenção à agência das coisas. Nesse contexto, pretendo entender o vírus como um importante agenciador de relações sociais, apto a produzir efeitos na articulação desses agentes organizados em rede. Com o aporte teórico de Latour, analiso o papel dos mediadores das organizações da sociedade civil e das instituições governamentais, a dinâmica da rede — composta por atores sociais híbridos, humanos e não-humanos — os acontecimentos e efeitos por estes produzidos. Pretendo refletir aqui sobre a mobilização das instituições que trabalham com este grupo social frente aos auxílios emergenciais e às políticas públicas elaboradas para gerenciar os desafios impostos pela pandemia. Assim, busco entender esse processo em rede, não pelas partes que o compõe, mas pelas conexões, inter-relações e os efeitos mútuos produzidos a partir do vírus.
A análise parte do trabalho de campo e da etnografia realizada no âmbito do plano de atuação do Coletivo Conviva Diferente, do qual sou idealizadora e que, desde 2016, ministra aulas de português para imigrantes em Guaianases, região do extremo leste da cidade de São Paulo. Neste contexto de pandemia, sabe-se que a população menos favorecida, imigrante ou não, tem sofrido severos impactos socioeconômicos. Todavia, os imigrantes são, desproporcionalmente, mais vulneráveis neste cenário devido às especificidades de sua própria condição. Não dominar a língua portuguesa, sofrer discriminação e xenofobia [4], ter dificuldade em acessar a devida regularização migratória e possuir limitadas redes de apoio foram queixas comuns em muitos dos relatos registrados no trabalho de campo.
No início da pandemia do novo coronavírus, em março de 2020, o Coletivo Conviva Diferente elaborou uma Carta-Manifesto: Apoiem os imigrantes e refugiados de Guaianases!, com base em relatos de alunos para, cedo, publicizar a situação precária de imigrantes e refugiados, em virtude da condição de extrema vulnerabilidade que se encontravam. A partir da análise do vírus como agenciador da rede e dos efeitos gerados pela Carta-Manifesto produzida por nós, identifico que uma rede de apoio e solidariedade foi ativada com o objetivo de dar visibilidade e garantir os direitos sociais à essas pessoas. A Carta-Manifesto é ponto de partida da análise e não o seu ponto central, pois sabemos que existem diferentes redes de solidariedade e de planejamento de ações, como tantas outras que foram ativadas a partir da crise sanitária pelo Covid-19.
Portanto, parto do entendimento que, em rede, nada é totalmente visto como inteiro, concreto ou acabado. Tudo está em constante transformação, em busca de significados que deem voz aos mediadores. Vírus, máscaras, cestas básicas, por exemplo, não transportam apenas significados sociais ou materiais para o combate da pandemia, são eles mesmos pontos de agenciamentos que tecem a rede "(...) de tal modo que façam os outros fazerem coisas"[3]. A partir disso, identifico que instituições governamentais, de imigrantes e da sociedade civil adaptaram seu escopo de trabalho às circunstâncias emergenciais, como as que relato agora.
Curta-metragem documentário SOMOS MIGRANTES | Assista ao vídeo retratando as experiências do Coletivo Conviva Diferente na pandemia
No sábado, dia 14 de março de 2020, tínhamos agendado com a equipe responsável pelo atendimento itinerante do Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI), para levarem os seus serviços ao Centro Educacional Unificado (CEU) Jambeiro, local onde ministramos nosso curso de português para imigrantes, para oferecer orientações sociais, jurídicas ou de regularização migratória aos nossos alunos haitianos, nigerianos e camaroneses. Apesar da ação ter sido muito esperada por eles, a atividade planejada teve de ser cancelada no dia anterior, seguindo as orientações de isolamento social dadas pela coordenação da escola e pelo prefeito de São Paulo. Estávamos no início da quarentena devido à pandemia do Covid-19.
A partir daquele dia, não sabíamos ao certo quando retornaríamos às nossas atividades. No começo, os alunos nos perguntavam, pelo grupo de WhatsApp, quando voltaríamos a oferecer as aulas de português, e quando poderiam contar com o atendimento do CRAI Móvel, já que muitos dependem desses atendimentos itinerantes para resolverem assuntos de seu interesse. Em abril, as perguntas sobre a volta às aulas não eram mais tão frequentes. Em vez disso, chegavam à nós a preocupação pela perda de emprego pela quarentena, a dificuldade em não conseguir pagar as contas e também em obter mantimentos necessários para a subsistência.
O contexto de pandemia evidenciou ainda mais as vulnerabilidades, violências e exclusões as quais imigrantes periféricos estão submetidos em sua vida cotidiana na cidade. Nesse sentido, a produção da Carta-Manifesto teve o intuito de difundir a situação vivenciada por nossos estudantes, moradores de Guaianases, Lajeado e região, mas com a finalidade também de dar visibilidade à realidade semelhante de muitos outros imigrantes residentes de outras áreas periféricas ou não da cidade. Além de levar a público a situação vivenciada por nossos alunos, o manifesto teve como objetivo convocar pessoas para apoiarem e fortalecerem a rede assistencial já estabelecida no bairro, promovida, principalmente, por igrejas brasileiras e de comunidades imigrantes. Em abril, o Conviva Diferente, que depois do início da quarentena continuou atuando com metade da equipe, havia conseguido amparar 51 famílias, com a ajuda de uma rede de amigos e familiares mais próximos.
A Carta-Manifesto serviria, além do mais, para assinalar algumas demandas de políticas de saúde pública e assistencial ao Estado, no âmbito federal, estadual e municipal, para garantir a realização da quarentena desta população, com direito à proteção e preservação da vida. Como medidas prioritárias, foram elencadas no documento: o auxílio-aluguel, a manutenção e ampliação dos benefícios assistenciais, a isenção do pagamento de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), água e luz, a garantia de alimentação, por meio de distribuição de cestas básicas e a garantia de atendimento em equipamentos públicos de saúde e assistência, independentemente da situação migratória ou documental dos imigrantes.
Todas essas determinações foram apoiadas por vinte e cinco entidades. Organizações, coletivos, igrejas imigrantes, movimentos sociais, comunidades indígenas, cátedras, projetos e programas de diversas universidades que trabalham com a questão migratória ou não, aderiram ao documento provocando efeitos diretos para determinadas organizações e imigrantes. Depois de colhermos as assinaturas, resolvemos destinar o documento a autoridades públicas das Secretarias Municipais de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, da Assistência e Desenvolvimento Social e da Saúde, ao gabinete do prefeito de São Paulo, bem como a representantes no legislativo, demandando que acolhessem as propostas que sugerimos para assistir imigrantes e refugiados da cidade. Em seguida, o mesmo texto da Carta-Manifesto transformou-se em um abaixo-assinado: Imigrantes e refugiados precisam de ação do poder público! [4] assinado por 1.304 pessoas.

O Coletivo Conviva Diferente, que atua regularmente com diferentes parceiros, depois da produção e ampla divulgação da Carta-manifesto, viu-se envolto em uma outra nova rede de entidades que atuam com imigrantes, com o intuito de compartilhar e discutir a situação que observamos na comunidade e no território onde atuamos. Quem assinou a Carta-Manifesto não necessariamente fazia parte da outra rede na qual o Coletivo foi ativado. Outros arranjos foram sendo construídos no processo, e identificamos aqui que os actantes, como tal documento, são pontos ou nós de redes heterogêneas e mais amplas que podem deslocar os actantes para outras redes, descobrindo outros processos operantes.
A rede na qual o Conviva Diferente foi ativado é constituída por mais de cinquenta membros e representantes de organizações parceiras que vem acompanhando o Conselho Municipal de Imigrantes (CMI) de São Paulo, e fazem parte do Grupo de Trabalho de Integração Local, órgão consultivo vinculado à Coordenação de Políticas para Imigrantes e Promoção do Trabalho Decente (CPMigTD), da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC). Estes seriam, talvez, os atores que "falam" por uma rede com maior representatividade da comunidade imigrante.
Fui convidada, em nome do Coletivo Conviva Diferente, a participar da 1ª Reunião do Grupo de Trabalho de Integração Local, que viria a ocorrer remotamente no dia 27 de março. A reunião tratou de ouvir as demandas da população imigrante e das instituições que trabalham com eles nos mais diferentes territórios da cidade. Destacou-se a grande necessidade de garantir a visibilidade deste grupo social em meio à pandemia, como também sua proteção e direitos.
Devido à quarentena as reuniões da rede foram realizadas sempre à distância, mediadas por meio de tecnologias digitais que permitem aproximar os membros de diferentes projetos sociais ligados à questão migratória. Nessa rede foram apresentadas a campanha "Regularização Já", a de doação de cestas básicas, produção de materiais virtuais em diversas línguas para orientar os imigrantes sobre seus direitos e benefícios, como também iniciativas de apoio para confecção de máscaras por imigrantes periféricos ou em situação de grande vulnerabilidade social.
Contudo, a realização do cadastro para o Auxílio Emergencial pelo aplicativo da Caixa Econômica Federal ou a retirada do benefício do governo federal nas agências bancárias foram apontadas como umas das grandes dificuldades encontradas pela população imigrante devido à não aceitação da documentação migratória a dizer, Carteira de Registro Nacional Migratório (CRNM) e o Documento Provisório de Registro Nacional Migratório (DP-RNM), conhecido como "protocolo de refúgio". Nesse sentido, foram elaboradas, por membros da rede, minutas para serem encaminhadas para o Secretário Especial da Receita Federal do Brasil e para a Presidência da Caixa Econômica Federal, especificando todas as adversidades enfrentadas pela comunidade imigrante que depende dos benefícios emergenciais, entre elas a fome e o despejo de suas moradias.
A partir daqui, encontramos outros actantes não humanos operantes na rede: documentos, minutas, celulares, fake news, aplicativos e agências bancárias, "mediadores" quando assumidos como “fios que conectam” e, em associação, produzem efeitos e significados. São todos eles igualmente importantes para que as informações e os auxílios emergenciais cheguem de forma correta para os imigrantes. No caso das fake news proliferadas em grupos de WhatsApp, como aquelas constatadas no grupo de nossos próprios estudantes, tal mediação distorce e altera informações que aparentemente estariam associadas, produzindo outros efeitos em rede e acarretando também novas frentes de ação e trabalho para a equipe do Conviva Diferente.

Durante as reuniões semanais da rede, o CMI, através do Grupo de Trabalho Integração Local, disponibilizou a todos os participantes, Coletivos, Associações, Órgãos Municipais, Estaduais, Federais e Organizações Internacionais que atuam na garantia de direitos da população imigrante de São Paulo, um formulário online sobre o Mapeamento Colaborativo da Rede de Organizações que estão trabalhando pela garantia de direitos da população imigrante no contexto da pandemia do Covid-19. O questionário foi elaborado com o propósito de identificar como cada parceiro está funcionando, quais são as demandas dos imigrantes que atendem, além de divulgar as ações emergenciais de cada organização.
Apesar do convite a todos, apenas treze organizações responderam ao formulário. Foram eles: 8 coletivos/associações/organizações de apoio a imigrantes, 2 coletivos/associações/organizações de imigrantes, 2 órgãos público do município e apenas 1 classificado como "outros". Com o preenchimento do formulário, pudemos ter uma ideia das comunidades imigrantes mais assistidas: a República Democrática do Congo, Venezuela, Bolívia, Síria, Angola e Haiti, foram as principais nessa ordem decrescente. No requisito "demandas", as principais encontradas foram, em primeiro lugar, acesso ao trabalho e renda, e em segundo lugar empataram: o acesso à alimentação e à assistência social e acolhida institucional. Pelo mapeamento, foi possível identificar também que a região da zona leste foi uma das mais assistidas pelas organizações que responderam ao questionário.
Mesmo contando com pouca adesão das partes integrantes da rede no preenchimento do formulário do Mapeamento Colaborativo, constatou-se que uma das primeiras ações emergenciais que poderiam advir do poder público municipal é a garantia de doação de cestas básicas, o que veio a se concretizar por meio do Programa de Doação de Cesta Básica da Prefeitura – Cidade Solidária.
O Conviva Diferente foi um dos agentes contemplados por essa ação, e outra rede foi formada a partir da coleta e entrega de cem cestas básicas para alunos atendidos pelo Coletivo. Tomarei como eixo condutor as mediações e as representações sociais desse novo arranjo e agenciamento, ou seja, na concepção da teoria ator-rede, a análise de acontecimentos, fluxos e ações em curso e suas interações, como veremos a seguir.
Para fazer parte do Programa de Doação de Cesta Básica da Prefeitura – Cidade Solidária: Ação de Voluntariado de São Paulo Contra o Coronavírus, as entidades e coletivos participantes precisavam ter o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) para que, depois, pudessem realizar a prestação de contas ao poder público. Por não termos CNPJ, conseguimos a doação de cestas por meio de uma organização conhecida pela sua atuação com imigrantes em São Paulo da qual nunca tínhamos nos aproximado antes. A rede de contatos entre os integrantes do Conviva Diferente foi fundamental para selar a importante parceria.
Além da exigência do CNPJ, todos os entes envolvidos na ação precisavam retirar e retribuir as cestas básicas em até 48hs. Por isso, novas parcerias foram realizadas ao longo do processo. Para a busca da doação, contamos com atores que tivessem veículo para carregar as cem cestas básicas, para realizar a distribuição, contamos com muitos outros atores moradores do bairro, entre brasileiros e imigrantes. A distribuição de nossas cestas básicas ficou à cargo de um amigo, pastor imigrante, conhecido na região por também ser conselheiro eleito do Conselho Participativo Municipal de Lajeado. Ele condicionou a todos os beneficiários a irem de máscara no local da retirada das cestas. A exigência era fundamental para mostrar a importância da proteção em tempos de pandemia do coronavírus.
Por termos sidos contemplados pela ação da Prefeitura, em maio, pudemos assistir à cento e trinta e sete famílias imigrantes e brasileiras, mais do que o dobro do mês anterior. A grande doação de cestas básicas se deve, em grande parte, pelos efeitos produzidos pela Carta-Manifesto, que, em seguida, foi divulgada em um portal de notícias que difunde matérias sobre questões migratórias e em outro vinculado à uma universidade que divulga ações relacionadas ao espaço público e ao direito à cidade, mas também pela atuação da própria rede de solidariedade pró-migração que foi ativada a partir do Covid-19.
Vírus, máscaras, cestas básicas. Listas de presença, filas, assinaturas. Todo o processo desta ação voluntária contou com a mediação de atores híbridos, humanos e não humanos. Mesmo contentes por termos conseguido atender tantas famílias, sabemos que ainda há muito por se fazer, pois tais ações emergenciais como distribuição de cestas básicas são fundamentais, mas não suficientes para conter os efeitos sociais e econômicos da pandemia do coronavírus. O desemprego e a condição precarizada de trabalho, tanto formal e informal, somadas à possibilidade de serem despejados de suas casas, são fatores que ainda afligem a vida de nossos alunos, como boa parte dos moradores da região periférica da urbe.

Enquanto escrevia este texto, uma campanha compartilhada pelas redes sociais foi realizada pelo Observatório das Lutas Urbanas Zona Leste para a implantação imediata de hospitais de campanha na região, por acolhimento de pessoas com sintomas do vírus em hotéis e CEUs e para a instalação de tendas de pronto atendimento nas favelas. Em vista disso, é preciso pressionar o poder público para saber o que está sendo feito pela população periférica imigrante ou não.
Neste contexto, cabe compreender também como as diferentes comunidades imigrantes veem e interpretam o vírus, e a compreensão que têm sobre a pandemia. Será que o Covid-19 representa para a população imigrante periférica uma ameaça maior à de outras doenças? Diferentes significados, contextos e situações podem ser construídos a partir de novas narrativas. Precisamos delas para compreender melhor a disseminação do novo coronavírus nas periferias das grandes cidades como São Paulo.
Para Latour, a própria comunicação é uma mediação que deve ser levada em conta para compor o panorama das redes. Este texto inclusive pode ser entendido como um agente mediador, na espera que outros se produzam, e, em rede, possam dar uma dimensão maior sobre a situação da pandemia de coronavírus entre imigrantes moradores de regiões extremas da cidade, suas estratégias e redes de solidariedade e sobrevivência.
Erika Andrea Butikofer[5] é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do ABC (UFABC), especialista em Direitos Humanos, Diversidade e Violência pela mesma instituição, bacharela em Ciências Sociais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. É idealizadora e cofundadora no Coletivo Conviva Diferente, um grupo independente e multidisciplinar atuante, desde 2014, na garantia de direitos de imigrantes que compõem o novo fluxo migratório na cidade de São Paulo. Estuda migrações, alteridade e periferia.
Os artigos publicados na série Mobilidade Humana e Coronavírus não traduzem necessariamente a opinião do Museu da Imigração do Estado de São Paulo. A disponibilização de textos autorais faz parte do nosso comprometimento com a abertura ao debate e a construção de diálogos referentes ao fenômeno migratório na contemporaneidade.
Referências bibliográficas
[1] BAENINGER, Rosana. et alii. (Orgs.). Migrações Sul-Sul. Campinas, SP: Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” - Nepo/Unicamp, 2018.
[2] LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica.Tradução de Carlos Irineu da Costa. 1°ed. Rio de janeiro: Ed. 34, 1994.
[3] _____________. Reensamblar lo Social: una introducción a la teoría del actor red. Buenos Aires: Manantial, 2008.
[4] ABAIXO-ASSINADO. Imigrantes e refugiados precisam de ação do poder público! Disponível em: https://www.change.org/p/secretaria-dos-direitos-humanos-de-s%C3%A3o-paulo-a-situa%C3%A7%C3%A3o-prec%C3%A1ria-dos-imigrantes-e-refugiados-da-periferia-de-s%C3%A3o-paulo-na-pandemia. Acesso em: 09 de mai de 2020.
[5] Pesquisa realizada sob orientação da Profª. Dra. Adriana Capuano de Oliveira. Agradeço ao Coletivo Conviva Diferente e à CAPES.
Anexo
Carta-Manifesto
Apoiem os imigrantes e refugiados de Guaianases!
O Coletivo Conviva Diferente vem publicizar a situação precária dos imigrantes e refugiados da periferia de São Paulo em tempos de pandemia de coronavírus. O Coletivo Conviva Diferente é conhecido por ser o primeiro curso de português para imigrantes e refugiados do extremo-leste de São Paulo. Atuamos no bairro de Guaianases desde 2016, e desempenhamos um papel que vai além das aulas de português: realizamos projetos de bancarização, educação social, assistência e outros. Dessa forma, nossa atuação não apenas serve ao propósito de assistir a população migrante da região, mas também para sinalizar ao poder público, entidades do terceiro setor e à sociedade de maneira mais ampla quais as questões mais prementes colocadas pelos migrantes que atendemos no território, tornando visíveis pessoas que, de outra forma, seguiriam ignoradas.
Diante da mais recente crise causada pela pandemia de CoViD-19, diversos relatos nos chegaram sobre as agruras enfrentadas por nossos alunos: imigrantes e refugiados demitidos de seus empregos em razão da quarentena, impedidos de receber remessas financeiras de seus parentes no exterior — e até de fazer remessas para outros parentes com o dinheiro de seu trabalho —, sem condições financeiras de pagar o aluguel, as contas do mês e de comprar mantimentos necessários para sua subsistência mais básica — em alguns casos, itens de primeira necessidade para garantir a segurança sanitária dessas pessoas tornam-se artigo de luxo, como produtos de limpeza e de higiene.
Sabemos que essa é uma realidade compartilhada com brasileiros que também habitam as diversas regiões da cidade. Tivemos notícias de campanhas de arrecadação de mantimentos e de dinheiro mobilizadas por organizações que, entretanto, não contemplaram o bairro de Guaianases. Também sabemos que a ajuda mútua e a solidariedade são importantes ferramentas para superar essa crise, mas temos consciência de que essas ações têm caráter emergencial, e não aplacam as dificuldades em definitivo. De toda forma, conclamamos aqueles e aquelas que queiram auxiliar a nos procurar, para que possamos canalizar essa mobilização à rede assistencial já estabelecida no bairro, através das igrejas, entidades de assistência e representações do poder público.
Além disso, pontuamos algumas demandas que achamos pertinentes serem exigidas do Estado enquanto políticas de saúde pública, que garantam o direito à proteção, através da garantia da possibilidade de respeito à quarentena por essa população por meio da garantia de renda, à assistência, por meio da concessão de benefícios assistenciais emergenciais e garantia dos benefícios vigentes, e à saúde, por meio da garantia de acesso aos equipamentos públicos de saúde a despeito da situação migratória e/ou documental desses imigrantes. Como medidas, demandamos:
- Auxílio-aluguel para imigrantes e refugiados garantido pelo Estado (seja o poder público municipal, estadual ou federal) por 4 meses, ou isenção do pagamento de aluguel financiada pelo poder público pelo mesmo período, em especial àqueles e àquelas em situação financeira crítica, moradores de bairros periféricos ou não;
- Manutenção dos benefícios assistenciais vigentes, como o Benefício de Prestação Continuada, Bolsa Família e outros, além da ampliação de sua concessão àqueles e àquelas mais necessitados;
- Isenção do pagamento de IPTU, água e luz para imigrantes e refugiados de São Paulo por 4 meses;
- Garantia de alimentação, através da entrega de cestas básicas para imigrantes e refugiados de São Paulo em situação crítica por 4 meses;
- Garantia de atendimento em equipamentos públicos de saúde e de assistência a imigrantes e refugiados, de Guaianases e de outras regiões periféricas ou não, independente de sua situação migratória e/ou documental.
Também conclamamos àqueles e àquelas que puderem a doar itens de necessidade básica para suprir a demanda dessa população no bairro. O Coletivo Conviva Diferente irá elencar as igrejas (de imigrantes ou não) e entidades assistenciais do território que estão recebendo doações, e disponibilizar em nossa página do Facebook (facebook.com/convivadiferente) e perfil do Instagram (@conviva_diferente). Acompanhem. Assinam como apoiadores:
Coletivo Conviva Diferente
Missão Paz
Centro de Apoio e Pastoral do Migrante - CAMI
Projeto de Acolhimento Psicossocial Intercultural - Departamento de Medicina Preventiva (Unifesp)
Curso de Especialização em Saúde Mental, Imigração e Interculturalidade (Unifesp)
Miredes Internacional
Programa de Psiquiatria Social e Cultural (PROSOL-IPq-HCFMUSP)
África do Coração
Projeto Ponte - Instituto Sedes Sapientiae
Cátedra Sérgio Vieira de Mello (UFABC)
Laboratório de Estudos Migratórios - LEM (UFSCar)
Comunidade de Indígenas Otavalo e Salasaka - São Paulo
Aliança Cultural Brasil Filipinas - ACBF
Fórum Internacional Fronteiras Cruzadas - Fontié Ki Kwaze
Centro de Estudos de Migrações Internacionais - CEMI (Unicamp)
Rede de Cuidados em Saúde para Imigrantes e Refugiados de São Paulo
Rede Emancipa - Movimento de Educação Popular
L’eglise de Dieu Roc Solide (Guaianases)
Política, Políticas Públicas e Ação Coletiva (3PAC/UFABC)
Núcleo de Estudos e Trabalhos Terapêuticos - NETT
Central de Movimentos Populares de São Paulo
Presença da América Latina - PAL
Missão Evangélica Batista Haitiana de Guaianases
Igreja Assembléia de Deus Haitiana de Guaianases
Projeto Canicas
Comunidade Haitiana de Deus Sião
Planeta América Latina
Bolívia Cultural
Foto da chamada: Karla da Costa. | Conta com tarja preta, no canto inferior esquerdo, escrito Ocupação "Migrações Internacionais e a pandemia de COVID-19" em branco.
A ocupação "Migrações Internacionais e a pandemia de COVID-19" é uma iniciativa que surgiu da parceria entre Museu da Imigração e Núcleo de Estudos de População "Elza Berquó" (NEPO – IFCH/UNICAMP), para divulgação do livro "Migrações Internacionais e a pandemia de COVID-19" (disponível neste link). Dando continuidade à proposta desenvolvida na série "Mobilidade Humana e Coronavírus", seguiremos debatendo e refletindo sobre os impactos da pandemia para as migrações e demais mobilidades.