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Hospedaria de Histórias: O caso da família Longaretti
Em novembro de 1909 chegava na Hospedaria de Imigrantes do Brás o italiano Battista Longaretti. Em junho de 1910 foi a vez da chegada de seu pai, Francesco, e um de seus irmãos, Girolamo. Um ano depois, em setembro de 1911, passaram pela Hospedaria outro irmão, Elias, e sua mãe, Clementina Pendoli.
Não era a primeira vez que desembarcavam no Brasil. No começo da década de 1890 migraram todos juntos, o casal Francesco Longaretti e Clementina em companhia dos filhos Pietro Angelo, Maria Pietra, Bonaventura Diodata, Maria Isabella, Girolamo Sperandio, Battista e Giuseppe Elia. Eram originários da província de Bergamo, na região da Lombardia.
Em 1900 a família esteve envolvida num caso que repercutiu em todo o Brasil e na Itália. Pietro Angelo Longaretti, mais conhecido como Angelo, assassinou Diogo Eugênio de Salles, o irmão do Presidente da República, Campos Salles. O fato ganhou extensa visibilidade na época. Por meio dele é possível compreender parte do cotidiano presente nas fazendas de café do interior paulista e as relações sociais existentes naquele contexto histórico. Por esse motivo o caso é citado por diversos autores que estudam a imigração italiana para o Brasil e já foi objeto de estudo em dissertação de mestrado.
Diogo foi morto por um tiro de garrucha, em meio ao cafezal de sua fazenda, no município de Analândia. Os motivos que incitaram Angelo a praticar uma ação tão extrema variam e são citados no processo que resultou do crime. Motivação política, defesa do pai, proteção das irmãs mais novas (o filho de Diogo foi acusado de assediá-las sexualmente).
Depois de alguns meses como fugitivo, Angelo foi preso, julgado (duas vezes) e condenado. Libertado em 1908, regressou à Itália, mais especificamente à cidade de Treviglio, província de Bergamo. Faleceu, provavelmente, na década de 1960.
A família Longaretti, claro, sofreu as consequências de todo esse processo e voltou para a Itália. Porém, chama a atenção o fato de alguns irmãos de Angelo e seus pais reemigrarem para o Brasil logo após a sua libertação, nas datas citadas no começo do texto. Na década d 1940, um de seus irmãos, Girolamo (registrado no Brasil como Jerônimo), vivia no bairro da Liberdade, na cidade de São Paulo, trabalhando como motorista.
Fonte de pesquisa e sugestão de leitura:
FERREIRA, Christiano Eduardo. O caso Longaretti: crime, cotidiano e imigração no interior paulista, 2005. Disponível aqui.